Hoje eu vim falar de algo muito comum na nossa rotina, mas também um dos motivos de pessoas e animais alimentarem uma aversão às visitas ao veterinário.
Podemos concordar que a coleta de sangue é algo desagradável para todos os envolvidos, certo? É ruim pra gente também!
Os bichinhos se debatem, choram, mordem, arranham, gritam, alguns esperneiam como se tivesse acontecendo uma verdadeira tortura.
Outros menos escandalosos não gastam tanta energia mas se tremem em ritmo acelerado com um olhar de “mãe me tira daqui, o que estão fazendo comigo?”.
Claro que não posso generalizar, já que nem sempre é conturbado. Às vezes surge aquele animal tranquilinho, que não importa quantas punções sejam feitas, ele fica paradinho esperando acabar.
Uma coleta tranquila é para nós, aquela tarefa do seu trabalho que você sabe que pode ser um problemão, preferia que não fosse uma função sua, mas quando faz e dá tudo certo, se sente leve e respira aliviado.
Sabemos que é ruim para eles, que não tem a compreensão exata do que está acontecendo, e para seus tutores, que até entendem, mas ninguém gosta de ver seu animal desconfortável e amedrontado, clamando por misericórdia em tentativas de se desvencilhar das mãos daquele pessoal de branco com agulha na mão.
A angústia é generalizada, e eu não gosto de ser o vilão dessa história. Não queria ter que furar os coitados, mas faz parte do meu trabalho.
Já que é preciso fazer, queremos que seja da forma menos traumática possível.
Como não podemos explicar para os bichinhos a importância do exame e de uma coleta tranquila, devemos nós, veterinários e tutores nos alinharmos em alguns pontos chave nessa questão.
Podemos começar com um fato: quanto mais nervoso você ficar, mais difícil será a coleta.
Não sou a pessoa mais mística e esotérica do mundo, mas durante esses anos atendendo  passei a acreditar que os animais são mesmo “esponjas de energia”. Eles absorvem a nossa tensão, nosso medo. Quanto mais nervoso a gente fica, mais eles ficam também.
Aquela energia se dissipa no ambiente e afeta a todos, inclusive quem está irá fazer a coleta.
Eu não quero de jeito nenhum furar meus pacientes várias vezes, queria acertar sempre de primeira, mas a somatória de animal agitado com família nervosa, vai sem dúvidas, gerar  dificuldades, e é nesse contexto que precisamos tentar várias vezes até conseguir.
Então, se você fica muito tenso com a situação de ver seu animalzinho sendo furado, recomendo que aguarde na recepção, tome um café, que rapidinho a equipe conseguirá coletar a amostra que precisa. No Vet Domus eu garanto que seu animal será respeitado e terá carinho e empatia em qualquer situação, você estando junto ou não.
É a realidade, muitas coletas só são possíveis quando a família não está na sala. Não por fazermos algo diferente, mas por diminuir a tensão do animal e da equipe médica.
“Mas Dr ele fica mais calmo no meu colo”  - Alguns pacientes, sim, outros ficam mais  reativos. É importante discernirmos essa diferença.
Por mais que seja rotineiro,e maior que seja a nossa experiência, ainda assim a coleta de sangue pode ser mesmo um pouquinho complicada. E quando falamos dos felinos, a dificuldade se multiplica.
Gatos são muito mais intolerantes à contenção. Tudo começa quando vamos segurá-los. Se  debatem antes mesmo de ser picados uma única vez.
Se movem de uma forma inacreditável, que faz parecer que não tem ossos, e por isso são mestres na arte de se livrar de qualquer contenção. 
No Vet Domus todos somos treinados e temos certificação FEAR FREE e CAT FRIENDLY, que significa que sabemos o que fazer para minimizar o estresse no atendimento dos felinos. Mas a maioria não está nem aí para nossos cursos e certificados. Detestam ser contidos e não permitem de jeito nenhum uma coleta tranquila.
Eu amo atender gatinho filhote recém adotado, ao mesmo tempo que é um martírio ter que tirar sangue dos pobrezinhos. As veias pequenas, como fiozinhos de cabelo, são muito difíceis de pegar, e quase todos precisam passar por exames no primeiro atendimento.
Outro fator importantíssimo para uma boa amostra de sangue:
Quanto mais calibrosa a veia, melhor!
“Já é ruim ter que tirar sangue, ainda vem esse veterinário querendo tirar do pescoço “
Confia em mim. Eu juro que a amostra de sangue é melhor, por isso priorizo o sangue da jugular.
O sangue periférico (das patinhas) tem mais chance de vir cheio de alterações. São veias menos calibrosas e mais difíceis de pegar. Muitos problemas de plaquetas são mal diagnosticados por que o animal não tem realmente um problema, a coleta da pata que foi ruim e está nos enganando.  Amostra hemolisada, ictérica, plaquetas baixas… vários falsos problemas podem aparecer por uma coleta ruim.
Sei que é mais aflitivo, mas sangue do pescoço deve ser prioridade pela qualidade da amostra e confiança do exame.
Sabe qual animal tem a melhor jugular de todas? O Yorkshire. Ô veia boa para coleta. Eu queria que todos tivessem a veia grande como dos Yorks.
Agora do outro lado, uma difícil de pegar é do Spitz Alemão. É naturalmente escondidinha, principalmente se são gordinhos. Sem falar nos pêlos longos e volumosos impedindo a gente de palpar e visualizá-la.
Para finalizar, é fundamental que todo exame seja LIDO por uma patologista, e não feito totalmente por uma máquina.
A leitura de um profissional patologista garante maior precisão no resultado, enquanto a  máquina corre mais riscos de falha de leitura, pode confundir células, deixar algo importante mal interpretado….
Aqui no Vet Domus, a Dra Lilian, nossa patologista, avalia exame por exame para não deixar passar nenhum erro, proporcionando exames com excelência.

Vários fatores influenciam na coleta para obtenção de uma boa amostra de sangue… Experiência do veterinário, tensão da sala e nervosismo da família, agitação do animal, estado de hidratação..
O importante é confiar na equipe e, sendo uma situação inevitável, encarar de frente. Tudo correndo bem acaba sendo rápido e não tão sofrido assim.