NOVIDADES, ARTIGOS E DICAS

Surto Coletivo de Engasgo??

Por:

Dr. Victor Soares

|

01/07/2023

Estamos na época do ano de casos clínicos tão peculiares quanto frequentes. Em junho e julho quase todo dia recebo pacientes no consultório ou mensagens no celular com a mesma queixa: Meu cachorro está engasgado! Tentando colocar alguma coisa para fora. 
Será que existe mesmo uma sazonalidade para isso? Uma influência da rotação planetária para objetos ou comidas entalarem nas gargantas dos bichinhos sempre nessa época do ano?

Na verdade o que os cães têm, realmente com mais frequência nessa época do ano é uma tosse!
Essa tosse se assemelha muito a um engasgo, principalmente quando os cães tentam expelir o muco da traquéia. Parece mesmo que querem colocar algo para fora, mas é  muco, e não algum corpo estranho que esteja obstruindo as vias aéreas. 

Mas nem todo mundo é obrigado a saber a diferença, por isso que sempre nessa época aumentam os casos de muitos pais e mães de pet entrando aqui gritando “Emergência! Emergência! Meu cachorro está engasgando”. Às vezes podem vir no susto da primeira crise ou em alguns casos dizendo que o animal está engasgado há uns dias.
A grande diferença está no fato de que o engasgo causa um desconforto e angústia respiratória muito grande. O cão fica agoniado, respirando mal, com a língua roxa, não para quieto, não consegue comer, brincar ou dormir pela dificuldade de respirar. Por isso, não existe isso de que ele “está engasgado há uns 3 dias, sempre piora a noite”, sinais clínicos de engasgos não são oscilatórios, são súbitos e graves. O que vai e volta, melhora e piora são as crises de tosse mesmo.
Chamamos a doença causadora dessa tosse de Traqueobronquite infecciosa canina, gripe canina ou tosse dos canis.
É uma doença do trato respiratório, que causa inflamação da traquéia e brônquios causando uma tosse alta e seca.  

A doença é infecto-contagiosa e circula com mais potência em dias frios e secos, por isso a maior incidência nos meses de junho e julho e afeta cães que frequentam locais mais populosos como creches, hoteizinhos e praças. 

É normal atendermos na mesma semana cães que moram no mesmo prédio e andam no mesmo elevador, ou cães que frequentam as mesmas creches, pois ficam respirando e tossindo um próximo do outro e transmitindo a doença. 

Nesse ponto do texto você pode estar pensando tranquilamente: “Ufa! Ainda bem que meu cachorro toma todo ano a vacina da gripe canina”. Sim! Ainda bem. A vacina pode ser uma boa forma de reduzir as possibilidades do contágio, mas não impede completamente a doença de se desenvolver. Isso porque ela é multifatorial.
A vacina contra a gripe canina imuniza o animal somente contra Bordetella que é uma bactéria causadora dos sinais clínicos, mas outros agentes como parainfluenza, adenovírus, H3N8 ou H3N2 também podem causar os mesmos sinais. Então não existe uma prevenção totalmente eficiente. Mesmo vacinado seu cachorro ainda pode pegar a gripe canina.

Outros fatores podem agravar o quadro de tosse, que aparece com maior intensidade em horários noturnos, como poeira de reforma, fumaça de cigarro, dias muito secos, entre outros. Por isso fazer inalação com solução fisiológica sempre vai bem para umidificar as vias aéreas ressecadas desses pacientes que tossem demais. 

O período de incubação da doença pode ser de 2 dias a 2 semanas até aparecerem os sintomas. Então se seu cão começou a tossir hoje, não quer dizer que ele pegou exatamente hoje do passeio ou da creche. E a disseminação dura por volta de 10 dias, no caso da H3N8 até mais, o que quer dizer que mesmo que seu cão possa estar tendo poucos episódios de tosse, só às vezes ou em casa de noite, ele também está transmitindo a traqueobronquite para os coleguinhas caninos durante os passeios. 

O lado bom de tudo isso é que a doença é considerada branda e auto limitante. O que determina a dinâmica da doença é a situação imunológica do cachorro. Alguns casos de cães recém resgatados, ou mais velhos ou imunossuprimidos podem ter complicações com a doença e evoluir para uma broncopneumonia, mas a maioria para de tossir em poucos dias, principalmente se tomar medicações para os sinais clínicos.

A parte ruim fica por conta do susto. As tosses, que mimetizam perfeitamente engasgos, preocupam muito os tutores, principalmente quando a crise vem de forma compulsiva e bem na hora de dormir. Eles sobem na nossa cama, vem aquela tosse seca e interminável como se fosse um senhor com décadas de tabagismo. Deixa qualquer um assustado mesmo, por isso empatizo com quem não entende o que está acontecendo e chega aqui apavorado. 

Esperamos que todos tenham um ótimo mês de julho e caso apareçam as crises de tosse típicas deste mês, ou qualquer outra doença, lembrem-se que estamos sempre à disposição =) 

ATENDIMENTO 24H

11 3034-0373