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Um é pouco, dois é ideal

Por:

Dr. Victor Soares

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20/01/2023

Das diversas coisas que me encantam no exercício da minha profissão, existe um carinho especial com a consulta de filhotes. Aquele check-up de bebê (cão ou gato) que acabou de sair da ONG onde foi adotado e ganhou uma vida nova com uma linda e sempre entusiasmada família, ou aquele que acabou de ser comprado de um canil ou feirinha e os novos papais e mamães o trazem, preocupados em se certificar se o novo integrante da família está saudável e em bom estado geral. É o tipo de atendimento que eleva o astral do dia e melhora qualquer plantão. 

Eu estou sempre munido de centenas de orientações e dicas de cuidados tanto de saúde quanto comportamental para ensinar nessa primeira consulta que considero de extrema importância para o resto da vida do animal. Essas orientações diferem dependendo de alguns fatores como a origem desse filhotinho, quantas semanas de vida tem, se tem raça e qual é, o estilo de vida da família, entre outras.

De todas dicas que dou aos novos tutores de gatos, uma delas invariavelmente aparece logo no início da consulta: Tenha dois gatos.
Se a consulta é de dois filhotes adotados juntos, principalmente irmãos de ninhada, a minha felicidade e satisfação é enorme pois sei que aqueles irmãozinhos terão a companhia um do outro para ajudar no desenvolvimento físico e mental.
Quando faço a consulta de um gatinho só, de uma família (normalmente casais ou pessoas solteiras que trabalham bastante) que não tem nenhum outro animal e ele será um bichinho único, já dou a orientação de voltar na ONG de onde adotou e pegar mais um, juntamente com um spoiler de que a médio e longo prazo a vida dessa pessoa será muito mais fácil e a do gatinho muito mais feliz se crescer com uma companhia. Explico:

Os gatos domésticos são seres ainda não tão domesticados quanto os cães e preservam muito do seu comportamento ancestral. Dos aspectos “silvestres” que os gatinhos mantêm até hoje, um dos mais marcantes é a sociabilidade. Gatos são animais sociais, com senso e necessidade de um estilo de vida coletivo. 

Você pode estar questionando “mas eu sou companhia para meu gato”. Sim, nós somos companhia para eles mas não somos o suficiente nem a companhia adequada para que ele possa aprender, crescer, se desenvolver como um gato e expressar facilmente seu comportamento natural no dia-a-dia.
Todo filhote precisa de parceiro, um bff. um aliado, um parceiro de crime. E essa parceria só pode vir de outro gatinho.
A criação de gatinhos juntos torna fácil e natural o aprendizado de o que é ser um gato, como é ser sociável, também a diferença de brigar e brincar, pois promovem entre si uma estimulação física e mental de forma espontânea sem demandar isso da gente.
Gatinhos que crescem juntos normalmente desenvolvem uma camaradagem que é linda de acompanhar,  invejável e que também facilita nossa vida.
Crescem mais saudáveis, mais magros, têm menos distúrbios comportamentais e consequentemente menos problemas de saúde.
Eles correm um atrás do outros, gastam muita energia, ficam se esbofeteando amigavelmente, ajudam a se limpar lambendo regiões inacessíveis para a própria língua, dormem juntos, exploram o ambiente e nesse conjunto todo de atividades eles estimulam constantemente um ao outro atendendo as necessidades básicas comportamentais.
Quando cresce sozinho, o gatinho depende totalmente de nós para estimular o comportamento de explorar, simular uma caçada, a apreensão de uma presa. Tendem a ter problemas comportamentais que chamamos de “Síndrome do gato único”  e também a serem mais medrosos, inseguros, desconfiados e vulneráveis a situações de estresse.
Quem paga o preço pelo gatinho que cresce sem estímulos e entediado? Seu tornozelo, suas mãos e braços, seu sofá…
Pense o quão frustrante deve ser a rotina de um gato - este animal que intrinsecamente explora, caça, foge, é caça e caçador -  que passa algumas, ou várias horas do dia sozinho em um apartamento em que a única coisa que se move é ele mesmo. Às vezes sem mesmo um acesso à vista de uma janela. Esse é o gatinho que sem dúvidas vai tentar arranhar e morder a tutora quando ela voltar para casa, sendo difícil até diferenciar afeto de gasto de energia essencial, de agressividade.

Quando faço uma consulta e vejo os braços da tutora cheio de arranhões já sei que se trata de um gato único e solitário, pois gatos que vivem com uma companhia felina não precisam ter comportamento de ataque, caça e luta com seus tutores, pois eles tem um ao outro para atender essa necessidade.
Tão legal quanto ver uma dupla de gatinhos crescendo juntos desde o primeiro dia de adoção, é dar todas essas orientações à tutores de gatos únicos que adotam um segundo felino para a família e depois me dão o feedback de que a adição do novo membro melhorou a vida de todos e a rotina ficou muito mais leve e feliz.

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